Diário das horas
Dormi quatro horas hoje. Ontem também. E anteontem também. Houve uns dias que consegui dormir cinco, outros em que não dormi mesmo nada.
Olho para o calendário com os dias assinalados com uma cruz. Ando nisto há duas semanas. Devia ir ao médico. Amanhã peço a tarde e vou a uma consulta.
Cinco e meia. Não consigo voltar a dormir. Tomei um longo banho de imersão. Aos anos que não fazia isto. Esta espuma estava por incertar. Foi a prenda da Inês no Natal passado. Cheira a chocolate. Agora já não dá para a estrearmos juntos. Também já vai tarde.
Preparei-me como se fossem sete da manhã. Nunca tinha feito a barba com tanto cuidado. Super macia, sem qualquer corte. Cinco estrelas. O gel mantem o cabelo no lugar. Imagem aprumada para um trabalho esgotante. Visto as calças do fato e a camisa branca. O casaco deixo para mais tarde. A gravata vermelha fica-me sempre bem.
Vejo um filme das gravações automáticas. Anda tudo à porrada. Vejo sempre filmes destes. Uma pessoa entretem-se. O volume está quase no mínimo. Os vizinhos não têm culpa que eu esteja neste estado. Se bem que às vezes os oiça discutir a qualquer hora do dia...
Seis da manhã. Ponho o pão que sobrou do dia anterior na torradeira. O microondas aquece uma caneca de leite. O café solúvel está mesmo no fim. Pego no telemóvel e tomo nota na lista das compras. Toca o microondas, as torradas já estão no ponto. A manteiga derrete à superfície do pão, o café mistura-se com o leite no fundo da caneca. Bebo um bocado e faço uma carantonha: esqueci-me do açúcar. Não há. Mais uma coisa para a lista.
Sete e meia. Saio um bocado à rua. Lá está a minha vizinha a passear o cão. Bela vista. Aproximo-me um bocado. Infelizmente, aquele tipo do prédio da frente já a cumprimentou. Também traz um cão. Volta e meia e caminho para trás.
Compro o jornal desportivo. Hoje há jogo da Champions. Estamos em primeiro no nosso grupo. Vai ser canja.
Um quarto para as oito. Eu sabia que devia ter trazido o carro. A greve do metro obriga-me a apanhar o autocarro. Pareço uma sardinha em lata.
Oito e meia. O meu chefe está feito louco, dá-me um raspanete e manda-me de volta para o circo do costume. A Bolsa está ao rubro. “Espere um pouco, não compre já”. “Compre agora!”. “Venda! Venda! Venda!”.
Meio-dia. Estou na rua a comer a habitual sandes de doner kebab com a Sandra e o Paulo. Falam que se fartam sobre a subida da Empresa XYZ. Já vou ter com eles.
Cinco da tarde. Venho-me logo embora. A Empresa XYZ reverteu a tendência e caiu quase tanto como tinha subido. A Sandra e o Paulo tinham cara de poucos amigos.
Seis e meia. Saí na paragem errada. Odeio estes dias. Sigo aquela tarântula apressada.
Seis e meia. O relógio parou. Portanto, estou perdido e não sei que horas são. Só me restam estas tarântulas. São do tamanho de pratos. Tarântulas por aqui?
Oito horas. Cheguei a casa à dez minutos. Tomo um duche frio. Estava uma tarântula nas roupas. Não sei onde ela foi parar.
Oito e meia. Abro uma lata de atum e misturo um bocado de ovo. Sento-me em frente da tv. Oiço vozes. Devem ser os vizinhos a discutir outra vez.
Nove horas. Esqueci-me de pedir a tarde ao chefe. Ligo-lhe agora. Diz que não pode ser. Falo-lhe dos dias que tenho a haver. Mal humorado, diz que tire o dia todo.
Dez e um quarto. As vozes passam a ser uma só. Uma voz feminina. Não percebo nada do que diz. “Nação” e mais qualquer coisa.
Onze horas. Encontrei a tarântula. Ela fica rígida quando tento pegar-lhe. As tarântulas são venenosas? Guardo-a dentro de uma caixa de bolachas vazia. Fica silenciosa.
Meia noite e dois. Tento adormecer mas em vão. A voz seguiu-me até ao quarto, mas não entrou. Não está ninguém na porta, mas a mulher continua com as palavras estranhas. “Lucy…”, “Nação…”.
Uma e vinte da manhã. Sinto o toque da mulher nas minhas costas. Volto-me e lá está ela. É a tipa do cão. Acaricio-lhe a face e ela sussura: “A Lucy… A Lucy…”. A Lucy o quê?
Quatro em ponto. Estive a dormir. A mulher já não está cá. Tenho de marcar a consulta, mas ainda é cedo. Vou tentar dormir outra vez.
Cinco e dez. Procuro a caixa das bolachas. Está aberta, mas não há sinais do bicho.
Seis e meia. Não, espera lá, estou a ver as horas no relógio de pulso. No rádio são seis em ponto. Vejo o telemóvel. Cinco minutos adiantado. Vou guiar-me por este. Por isso, seis e cinco.
Sete e meia. Ponho nas notícias. Como uns cereais com iogurte natural. O cão da vizinha não pára quieto. Fecho-o na despensa. Então reparo que tinha deixado a porta da rua aberta. Oiço a mulher subir as escadas do meu prédio, a chamar pelo cão. “Lucy! Lucy, anda cá!”. Corro à casa de banho para remediar a minha imagem. Não dá. Ela pede licença para entrar. Finjo-me doente, simulando um pouco de tosse. Finjo também descobrir o cão (a cadela, aliás) fechada no quarto. Quando a dona tenta levá-la, repara que Lucy ladra efusivamente. Pede mais uma vez desculpa e despede-se. Eu faço o mesmo, tossindo. Diz que me paga uma bebida quente, como compensação pela confusão. Se eu puder, claro. “Meia-hora?”, pergunto. Ela concorda. Peço que toque à campainha, não vá eu perder-me com as horas outra vez.
Oito horas. Liguei para o consultório a marcar a consulta. Tenho de lá estar às onze e meia. A mulher toca à campainha. “Sim, é a Inês, a dona da Lucy”. Inês? Outra Inês…
Está frio lá fora. Ela traz um casaco cinzento, igual ao das revistas. Olha para o meu cachecol castanho. Gosto de usá-lo com este sobretudo. Não me lembro de me vestir.
Oito e quatro. Chegámos ao café da esquina. Muito moderno e acolhedor. A Lucy não veio, ficou na São. A São é uma amiga dela. A Inês repete o meu nome várias vezes, como se procurasse uma nova textura numa prova de vinho. Eu disse-lhe o meu nome?
Oito e vinte. Despedimo-nos, depois de trocarmos números de telemóvel. Ela tem de ir trabalhar.
Volto a casa. A porta está trancada. As chaves não parecem entrar na fechadura. Já está.
A casa está um caos. Pegadas da Lucy em tudo quanto é sítio. Os cortinados do quarto estão rasgados. Aquela Inês tem de me pagar várias bebidas…
Nove e quinze. A tarântula reaparece. Por uma razão que desconheço, dirige-se de volta à caixa de bolachas. Tapo a caixa e guardo-a na despensa.
Seis e meia. Pronto, é desta que tiro o relógio do pulso. Mas entretanto toca o telefone de casa. É daquela operadora telefónica famosa a exercer o telemarketing. “Estou satisfeito com o serviço”, respondo, na minha melhor voz. “Obrigado e resto de bom dia”, despedem-se, do outro lado.
Dez e quarenta. A sala de espera do centro médico está apinhada de utentes. Reconheço a dona Manuela, mirrada e encurvada pela idade e também o Samuel, cozinheiro no restaurante mais famoso da zona. Quando lhe perguntei porque estava ali, disse-me que tinha apanhado uma intoxicação alimentar. Espero que não tenha sido no restaurante dele.
Onze e meia. A médica diz que preciso mesmo de repousar. Pergunta-me inclusive se não tenho visto ou ouvido coisas estranhas. Insónias prolongadas conduzem invariavelmente a alucinações. Então lembro-me da história das tarântulas. Ela leva as mãos à boca. Pergunta em que dia aconteceu. “Ontem à tarde”, respondo, “Porquê?”. Imediatamente, levanta-se e tranca a porta do gabinete. Pelo telefone, avisa que a consulta vai-se prolongar um pouco mais do que o previsto.
- Ainda a tem consigo?
- Está a falar da tarântula?
- Sim.
- Tenho. Lá em casa.
- Falou a alguém do assunto?
- Não, nem me lembrei.
Parece muito nervosa. Num armário onde guarda a sua mala, está também o jornal local enrolado. Apresenta-me a primeira página. “Coleccionador excêntrico perde colecção exótica de tarântulas, ver página 5”. Na página cinco explica-se o descuido do coleccionador, que lamenta os problemas (sobretudo sustos) causados aos habitantes locais. “Duas delas andam por aí. São muito especiais para mim. Por favor, contactem a polícia ou diretamente para este número, ofereço recompensa”.
Nesta altura, fico estarrecido. Tanto?
- Você não sabia disto até eu lhe ter dito. Vou querer a minha parte pelo silêncio.
Raios. Quero o dinheiro para mim, fui eu que encontrei. Aliás, a tarântula é que veio ter comigo! Por outro lado, não quero grandes alaridos e metade do “bolo” já dá para tirar umas merecidas férias. Concordo com a médica. “Vou ter consigo na minha hora de almoço, à uma da tarde.”
Meio dia. A caixa das bolachas está no chão e a tarântula não está à vista. Procuro em todas as divisões da casa. As tarântulas também sobem paredes? Pode estar em qualquer lado. Cá está ela. Sem lhe dizer nada, volta para dentro da caixa. Vou comer qualquer coisa.
Uma da tarde. A médica toca à campainha do prédio. Através do intercomunicador, digo-lhe que suba. Limpo o prato cheio de espinhas e cascas de laranja e certifico-me uma última vez que a casa está minimamente arrumada. Assim que ela chega, pede-me para fechar a porta e para lhe mostrar o espécime valioso. Fica contente por saber o que vai ganhar com o animal mas prefere manter-se afastada da criatura invulgar. Nunca percebi a aversão das pessoas a este bicho.
Ligamos para o número do coleccionador. É a médica que fala com ele, acalmando as suas mágoas, com a experiência dos seus anos numa profissão que implica ouvir os outros. O homem diz que dentro de meia hora está cá em casa. “Combinado, até já”.
Uma e vinte. Ofereci almoço à médica, mas com os nervos não lhe apetece comer nada. De vez em quando ouve-se uma buzinadela lá fora e corremos os dois para a janela. Não é o coleccionador. Tento uma conversa tranquilizadora. Não estou bem ciente do dinheiro envolvido. Deve ser de dormir pouco. Ela sorri sem muita convicção. Nunca tinha reparado que era tão atraente.
Uma e quarenta. O atraso do coleccionador deixa a médica ainda mais nervosa. Pede-me que confira a caixa das bolachas de dois em dois minutos. Ainda lá está a tarântula.
Sentados no sofá da sala, olhamos os dois para a televisão. Sempre ganhámos para a Champions. Nem me lembrei de ver o jogo. Os meus olhos fecham-se por uns segundos. Quando os abro a médica já não está ali.
Cinco minutos para as duas. A campainha toca. Deve ser o coleccionador. A médica corre para abrir a porta. O “boa tarde” açucarado morre no mesmo instante. Volta-se para mim: “Está aqui uma Inês para falar consigo. Ela não pode subir.” Fita-me com ar ameaçador.
Esta médica já me está a aborrecer. Preferia mil vezes dividir o prémio com a minha vizinha.
Digo-lhe que suba. A médica fica vermelha e quase solta um grito de revolta. Sente-se enganada. “Está na minha casa”, faço notar-lhe. Ela volta a sentar-se e range os dentes.
Abro a porta para a minha vizinha entrar. Não oiço a Lucy. Deve ter ficado outra vez na São.
Oiço passos pesados subirem a escada. Atrás de Inês estão dois homens gigantes, daqueles gorilas que acompanham sempre o pessoal importante. Tanto um como o outro têm óculos de sol escuros. Porque estão eles fardados à PJ?
- É este canalha que me anda a seguir.
De que está ela a falar? Pedem-me que saia de casa. Deve ser, deve. Não sei do que me estão a acusar. A minha vizinha fala de como eu a sigo faz hoje duas semanas. Que maluquice. Até me acusa de lhe ter levado a Lucy durante a noite e a obrigar a pagar um resgate no café da esquina. A médica ouve tudo e parece totalmente surpresa, afastando-se lentamente da minha pessoa. Eu começo a contar a minha versão, que a cadela fugiu porque deixei a porta aberta e que lhe devolvi a Lucy antes da dona me convidar para tomar um café.
“Mentiroso! Como podes ser tão bom a mentir?”. Os tipos da PJ falaram do cachecol castanho que encontraram em casa da Inês, casa essa que estava virada do avesso. A sua vizinha São também ouviu o barulho às nove e meia da noite passada e mais tarde, por volta das três e meia da manhã. “Só falo na presença do meu advogado”, afirmo, já irritado. Mas que raio?
Tocam à campainha. O olha da médica cruza-se com o meu. Os agentes da PJ pedem-me delicadamente que atenda. Eu peço delicadamente que saiam e que voltem a contactar mais tarde. “Às quatro e meia na esquadra, se fizer favor”. Inês fica irritada por os tipos abandonarem o local. Desce as escadas com eles. Eu acompanho-os. Não os quero a falar com o coleccionador. A médica espera em minha casa.
Tarde de mais. O coleccionador pensa que a polícia está no local por causa da tarântula. A Inês ficou subitamente ansiosa. Está assustada? Os tipos da PJ lembram-se agora da estória da tarântula. “Sim, este senhor comunicou-me ao telefone”, diz o tipo mais novo a olhar para mim. Como é que um gajo destes se atreve a mentir-me na cara? O homem diz que, no caso dele, tinha falado com uma mulher. A médica apresenta-se sorridente, cumprimentando o colecionador confuso. Quando é que ela desceu? E a Inês, não estava aqui?
Três horas. Recompensa dividida a quatro. Um pouco mais para a PJ pela “perda de memória” sobre assaltos e cães. A médica está radiante. Quando acabam com o meu stock de minis, expulso-os a todos de casa. Incrível.
Cinco da tarde. Adormeci em frente à tv. Preciso de um duche de àgua fria. Tento ordenar os pensamentos. Será que a minha vizinha estava a dizer a verdade? Foi há duas semanas que as insónias começaram. E eu nem sei bem porquê. Quer dizer que o episódio da Lucy invadir a minha casa e de tomar café foi tudo inventado? Parecia tão real! Mas então porque tinha ela desaparecido quando viu o coleccionador?
Seis e meia. Sei onde a minha vizinha mora. Escondo-me junto de uma àrvore larga. Está vestida para o jogging. Outra mulher, de ar simpático, segura a Lucy pela trela. Deve ser a São. A Inês faz várias festas à cadela. Depois retira um mp3 da bolsinha que leva à cintura e começa o seu treino. Sigo-a ao longe.
Seis e meia. A Inês caminha junto ao parque de estacionamento, nas traseiras do prédio dela. Começa a fazer alongamentos, olhando em volta. Nisto, chega um carro azul, todo “quitado”. Tem os vidros fumados. Quando baixam o vidro do condutor, não consigo ver nada, porque a Inês pôs-se entre ele e o meu campo de visão. Sei que ela mexeu na bolsa. Aquilo são notas de quinhentos euros? Espera, parece mesmo um dos tipos da PJ!
Seis e meia. Vejo-a a marcar o código da entrada do prédio. Fácil. Passados trinta segundos, asseguro-me que ninguém me vê, marco a sequência e a porta abre-se com um estalido. O elevador parou no segundo andar. Vou pelas escadas. O andar dela é o da esquerda. Encosto a cabeça na porta para tentar ouvir algum som. A porta está aberta. Entro.
Oiço gritos de alegria ao fundo do hall. Encontro a porta de uma divisão aberta e entro. A despensa. Encosto a porta. Vejo Inês ao telefone. “Sim, já tenho o dinheiro do Rui e do Miguel. Ficaram com a maior parte. Ah, entre nós? Foi cinquenta-cinquenta. Pois claro que aceitaram, fui eu que vi a tarântula! Aliás, foi a Lucy que deu com ela entre os cortinados.” Passou perto da despensa. Senti um nó na garganta. Por momentos, pensei que fosse abrir a porta. “Sim, está lá com a São. Não, não sabe de nada. Mas estava a dizer, tive de me encontrar com eles depois, porque o colecionador apareceu lá. Pois, ia ser estranho eu estar lá por causa do suposto assalto à minha casa, quando de manhã já tinha estado com o homem para devolver a outra tarântula…” Deteve-se perto da cozinha. Tem o telefone apoiado entre o ombro e a cabeça, enquanto enche um copo com àgua. “...Ficou baralhado, claro. Mas já não dorme à tanto tempo, ainda pensa que é verdade. Ainda bem que me disseste, senão não tinha coragem de ir lá hoje de manhã. Oh, tu tens sempre as melhores ideias. Enviar a Lucy lá para cima. Tive sorte que a minha fofinha não comeu a tarântula. Morta não servia para nada.”
Assim que a Inês desligou o telefone, saio da despensa e agarro-a, tapando-lhe a boca. Ela solta um grito mudo. Faço sinal para que fique calada. “Então foi isso, não foi?” cuspi, furioso, “Mas que trama tão bem contada! Aproveitareste do meu estado!”. Num impulso, lanço-a para o chão da cozinha. Ela soluça aflitivamente, sem dizer nada. Tiro-lhe o telefone das mãos. “Vamos lá ligar para este último número e expor o teu cúmplice. Preciso de provas para levar à verdadeira polícia”. Ponho o telemóvel na função de gravador. Estou acordadíssimo. A adrenalina faz o meu sangue fervilhar. Procuro a última chamada da lista. Número anónimo. As chamadas marcadas mostram vários números. Não tem uma lista telefónica na memória do aparelho. As lágrimas correm-lhe dos olhos.
- Marca o número.
- Eu… eu dou-te o dinheiro todo. Eu… não me faças nada…
- Marca o número.
- Pára… não posso. Sabes que não posso…
- MARCA O NÚMERO, JÁ DISSE!!!
Gritei. Os vizinhos podem ouvir. Raios. Mas ela obedece. Marca o número. Retiro o telefone da mão. Tenho de ter a certeza que a chamada é feita. Só preciso de ouvir alguém atender. Ela chora ainda mais. “O que fui eu fazer…”, lamenta-se Inês. “Dá-me o telefone! Tu não podes!”
No preciso momento que oiço a voz do outro lado, o mundo à volta pára. Foi esta a voz que ouvi em minha casa ontem. E repete a mesma ladainha. “Lucy… Lucy… Nação”.
Agora percebo.
“A Lucy na São”.
ALUCY NA SÃO.
ALUCYNASSÃO.
ALUCINAÇÃO.
ALUCINAÇÃO.
ALUCINAÇÃO.
***
Sete e meia. Devo ter adormecido. Estou exausto. Sinto a respiração dela, quente nas minhas costas. Estou deitado de lado, apoiado no ombro direito. Vejo os cortinados rasgados. Uma sombra esquisita, como um animal, sobe pela janela.
- Vou tirar o dia para dormir. Estas insónias têm de parar. Amanhã ligo ao chefe.
- Fazes bem - responde - A trabalhar assim, qualquer dia dás em maluco.
As mãos dela envolvem-me a cintura. Entrelaço os meus dedos nos seus. Adormeceu. Por momentos, ainda penso acender a luz para confirmar. Que disparate. É ela. Ao meu lado. Como sempre.
É ela, não é?
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